domingo, 18 de abril de 2010

Bad Romance

…Diante daquele beijo surpresa, meu coração disparou. Eu até esperava, pois nós já nos admirávamos muito. Mas não daquele jeito, nem naquelas circunstâncias. Daquele instante em diante, nascia uma paixão sufocada pelas situações da vida. Uma relação de confiança e respeito já havia sido formada. A admiração era mútua, mas mantida em silêncio. Naquela época, nem havia me dado conta que os principais ingredientes para uma paixão acontecer estavam ali, diante dos meus olhos: a admiração, o respeito e a confiança.

Eu estava sozinha, desamparada, sofrendo e perdida. Com certeza um dos piores momentos que já passei em minha vida. E ele estava ali, com a sua armadura, vestido de branco, pronto para me socorrer. A cada dia que passava a vontade de se reencontrar se tornava cada vez maior. Os sentimentos começaram a tomar proporções enormes e a paixão tomou conta. Já não era mais tão simples passar um dia longe.
Eu achava que sabia qual era sua verdadeira condição naquele momento, pois ele mesmo me contara. Era a situação perfeita no momento perfeito para se conceber um amor, onde os dois estavam desgastados emocionalmente. O que poderia ser melhor para curar as feridas de dois corações temperamentais que não uma paixão arrebatadora? Começamos então pensar no futuro a dois, em como seria uma vida juntos.
Aquele primeiro mês foi completamente insano. Já pensávamos em nos casar, em ter filhos. Estávamos movidos completamente pelo que sentíamos. Era como se o coração fosse realmente nosso leme. Estávamos embriagados de sentimentos que nos tiravam completamente a tão necessária razão. Mas tudo era novo e como tudo bom! Como se poupar ou ser cauteloso em algo que nos enche, que nos completa e que até nos cura.
Me recordo que já me sentia parte dele. Era como se nos conhecêssemos uma vida inteira. Meu coração me dizia que a partir dali eu havia encontrado finalmente a felicidade. Sentia-me sua parceira, sua esposa, sua melhor amiga, assim como o contrário, ele meu marido, meu parceiro, meu anjo da guarda. Acreditava verdadeiramente que já estava na hora de eu ser feliz, depois de tudo que já passara. Mas a vida ainda me reservara muitas surpresas das quais eu não esperava.
Ele pensava em casamento, e eu mais realista achava um pouco cedo falarmos sobre isso, mas estava tão entusiasmada e tão apaixonada que me permiti levar por aquela sensação de felicidade. Comecei pensar porque não poderia realmente ser uma história diferente das outras. Onde o amor simplesmente acontecera sem pré-requisitos básicos. E diante de toda essa emoção, aconteceu a nossa primeira separação.
Estávamos bem, montando e mobilhando seu novo apartamento. Muito empolgados com nossas novas vidas, com aquele amor que nos havia transformado. Eu havia recebido carta branca para mobiliar de acordo com o meu gosto, pois ele confiara em mim. Passei noites em claro, procurando, pesquisando, comparando os melhores produtos. Queria tudo impecável, até para fazê-lo ver o quanto eu me dedicava. Mas na hora de realmente sentarmos juntos para verificar se o que eu havia escolhido era o que ele esperava, foi onde aconteceu a primeira traição.
Ele já estava na loja, comprando tudo de acordo com o que ele queria. Me ligou de lá dizendo que já estava com tudo comprado, e que estava indo me encontrar. Me senti tão mal que não pude me conter. Já por telefone o questionei do por que não me avisara nada sobre a compra, nem sobre a decisão de quais seriam os itens que seriam comprados. Me senti vazia. Todo o trabalho que tive para escolher com todo amor e carinho era apenas algo para que eu me distraísse, pois não houvera servido para nada.
No entanto, sua reação ao meu questionamento foi o que mais me entristeceu. Me deu a entender que eu havia tomado conta de sua vida, de sua casa, como se eu houvesse me apropriado do que era na verdade dele. Fiquei sem reação. Não podia acreditar que o grande amor da minha vida estava se sentindo invadido por mim dessa forma. Não sabia como reagir então, impulsiva como sou, fui embora, ferida e magoada, e assim se deu nosso primeiro afastamento.
Deveria ter notado então que naquela época não havia arrependimento por parte dele, e que ele realmente ainda pensara da mesma maneira: o que é meu, é meu. Nesse momento, o sonho de um amor sem barreiras, começou a cair por terra. Eu comecei a me perguntar o que havia feito algo de tão errado, ou se realmente houvera invasão por minha parte. Tentei enxergar o ponto de vista dele de todas as maneiras, mas não cheguei a me convencer de que estaria errada.
Foi nosso primeiro grande erro. Varrer para baixo do tapete essa situação que ficou sem resposta, abafada dentro de nós. Daí por diante, se desencadeou uma séries de outras situações onde já não convergíamos mais, só divergíamos. O fato era que ele não confiava em mim como eu confiara nele. Deste período em diante, ele começou a me ver cada vez menos, me deixando sozinha aos fins de semana. Toda semana havia um motivo para uma nova briga, e sempre eram nas sextas-feiras.
Mesmo me sentindo muito mal, o encantamento do início ainda tomava conta de mim, e a paixão continuava sempre acessa em meu coração. As brigas se tornaram cada vez mais freqüentes, onde chegávamos a passar mais tempo afastados do que juntos. A idéia de uma união estável e feliz se afastava a cada dia mais dos meus pensamentos. Começávamos então uma nova fase em nosso relacionamento.
Passei a esperá-lo sempre, compreensiva de suas diversas atividades. Nos fins de semana em que não discutíamos, ele me dava diversos motivos pelos quais não poderia estar comigo. Muitas vezes era seu hobbie preferido junto aos amigos. Por valorizar o significado deste tipo de atividade na vida de qualquer pessoa, por mais triste que eu ficara, ainda procurava entendê-lo.
Sentia-me muitas vezes sozinha ao lado de minhas amigas. Passava grande tempo do final de semana com uma delas e seu marido. Pensava no que ele poderia estar fazendo naquele momento, que pudesse ser melhor do que ficar comigo. As semanas iam passando e nos encontrávamos muito durante a semana. Ele se mostrava muito ciumento quando me deixava sozinha. Desconfiava dos lugares onde eu dizia que estava na ausência dele. Achava que este tipo de desconfiança era uma demonstração de amor por parte dele. Mesmo assim não entendia por que ele me deixava tanto tempo sozinha.
Certo dia o telefone dele tocou. Era sua ex-mulher novamente. Ela ligava diversas vezes para ele quando estávamos juntos, mas eu nunca me importei. Sabia que quem estava com ele era eu, e que era de mim que ele gostava. Mas dessa vez foi diferente. Na ligação ela dizia que o esperava para jantar, o questionava de o porquê ele não ter aparecido. Havíamos acabado de jantar em nosso restaurante favorito, após uma discussão. Sem entender, como por impulso, peguei o meu telefone e liguei para ela. Disse no telefone que quem falava era a namorada dele e perguntei o que ela desejava. Para meu espanto, ela me contou que nunca havia se separado dele, e que os dois estavam há meses tentado reatar.
Estávamos juntos há seis meses. Nós três. Chegando em casa, ela me ligou novamente e me contou tudo. Tudo o que eles fizeram nesses últimos meses. Todos os finais de semana que passaram juntos, todos os programas românticos que inventaram. Pela segunda vez fiquei sem reação. Ele ao meu lado tentando negar tudo, mas já não havia mais como. Então me contou sua versão sobre a história. Dizia ele estar sendo chantageado por ela por meio de bens que ela possuía em seu nome. Que ele tentara fazê-la devolver para ele antes da assinatura dos papéis da separação. Eu acreditei.
Penso que quando amamos nos permitimos ser enganados. Preferimos escutar uma mentira que não doa a uma verdade que estraçalha. O problema é quando essa verdade encoberta resolve definitivamente vir à tona. Ela vem como uma enxurrada levando tudo que vê pela frente. É como se não arrumássemos uma goteira aparentemente inofensível diante de uma chuva passageira, mas quando vem o temporal, o telhado desaba por inteiro.
Seguimos o nosso relacionamento dali para frente, com promessas de começarmos novamente. Eu ferida até os ossos, mas cega pela paixão, continuei. Sua desculpa parecia muito convincente e suas palavras muito arrependidas. Eu queria acreditar que poderia esquecer tudo o que houve, e realmente cheguei a pensar que estaria ao lado dele em todos os momentos, mesmo que fosse este. Eu nem imaginara que deste ponto em diante, minhas atitudes começariam a mudar e eu deixaria de ser tão ingênua.
Nesses seis meses havia me privado de muitas coisas que gostara, sempre esperando por ele. Atitude essa que já não cometera mais. As brigas aos finais de semana continuaram, e a ausência dele seguiu. Já não ficava mais em casa, chorando e me perguntando o que eu havia feito de tão errado para ter que passar por isso, não estando ao lado dele. Permitira-me sair com minhas amigas para dançar, que é uma das atividades que mais gosto de fazer.
Mas diante desta minha mudança comportamental, a situação começou a ficar cada vez pior. Ele desejava me deixar só, mas exigia que eu o esperasse em casa. Cada vez que eu saía, por que ele mesmo me deixara, as insinuações sobre o que eu haveria feito eram as piores. Sua desconfiança a meu respeito começou a aumentar a cada dia mais. E eu a me importar cada vez menos. No fundo, eu sabia que quando ele não estava comigo, ele estava com ela, mas nunca admiti, inclusive para mim.
Não agia de forma desleal. Simplesmente não iria mais desperdiçar meu tempo sofrendo por uma pessoa que estava nos braços de outra. Ainda gostara dele. Os momentos especiais que passamos juntos foram intensos, assim como nós. Esperava que suas atitudes viessem a mudar, e que ele pudesse voltar a vestir a armadura e a roupa branca que vestia quando o conheci. Ou melhor, antes de conhecê-lo.
Por diversas vezes ele relatou que não sentia segurança alguma comigo. Que a mulher que ele pretendia se casar e ter um filho, era uma total inconseqüente, irresponsável. Que não poderia confiar em mim se eu continuasse agindo daquela forma. Neste momento, foi se perdendo o resto do respeito que havia sobrado. Já não era mais um adjetivo qualitativo, eram vários. Ele chegou ao ponto de além de fazer duas cópias das chaves da minha casa escondido, não confiava as da casa dele a mim.
Fui ficando histérica. Minhas reações a essas atitudes foram se mostrando cada vez mais impulsivas. A ponto de eu perder realmente a razão, em diversas circunstâncias. Eu passava então, a ser vilã de todas as histórias, a descontrolada. Reações que eu teria de uma maneira tranqüila antes, tomavam uma proporção gigantesca. Não acreditava mais nele, isso era um fato. Já havia passado em outra época por uma experiência semelhante, e sabia que não conseguiria conviver novamente com isso.
Foi então que me permiti aprender realmente o significado da palavra perdão, em toda sua essência. Não queria que a mágoa e o rancor tomassem conta do meu ser. Sempre acreditei no arrependimento sincero de um erro. Todos nós erramos, muitas vezes. A diferença é se aprendemos com os erros, corrigindo-os, ou se continuamos a cometê-los, pelo motivo que for. Errar com certeza é humano, mas se você repetir um erro, talvez você não ache que realmente errou. E quando acreditamos que nossas atitudes são aceitáveis, não acreditamos que seja uma falha, mas sim, algo aceitável.
Talvez o que doa em mim, não doa em você. Mas em algumas situações a dor é igual para todos. A dor de uma mentira, seja ela qual for, é muito grande. Quando depositamos respeito e confiança em alguém, é porque gostamos desta pessoa, porque esperamos dela o mesmo. Quando isso não acontece, há uma quebra de expectativas, que irá acontecer cada vez que houver esta situação. A ponto de começarmos a perder estes valores em relação à pessoa.
E foi exatamente isso que começou a acontecer. Comecei novamente a me sentir traída e fui ficando cada vez mais desconfiada a respeito das coisas que ele fizera. Suas histórias não me comoviam mais, e então eu fui me fechando. Acabara de sair de uma circunstancia muito indesejável em minha vida, ainda me sentia muito debilitada, muito sensível. Ele estava ao meu lado, me ajudando a me reerguer, mas volta e meia ele me soltava, para ver se eu caía.
Me deixava só em momentos que eu não tinha como ver ninguém. Parecia que era um castigo, por eu não ter feito o que ele quisera. Em muitas discussões se mostrou muito agressivo. Queria que eu não fizesse mais nada. E eu realmente não fazia. Visitava meus amigos de vez em quando, para conversarmos, e mesmo assim já era motivo de uma discussão, na maioria das vezes. Sempre achando que havia alguém comigo, ou que eu realmente não fizera o que havia dito. Minhas palavras haveriam de se tornar sem sentido. Eu que nunca temi a verdade, e a defendo na circunstancia qual for, estava sendo constantemente colocada a prova, de tudo que eu fazia ou dizia.
Contudo ele me convidou para morar com ele. Na verdade ele me propôs que se não morássemos juntos, não poderíamos seguir a diante. Fiquei preocupada. Mas os períodos que sucederam a este convite foram razoavelmente bons, e em uma das viagens que ele fez, decidi começar a mudança levando minhas roupas para casa dele. Para minha surpresa, ele não teve uma reação muito boa ao ver minhas coisas quando retornou.
Me senti pior ainda. Mas decidi novamente ignorar o fato. No dia seguinte, eu tinha uma festa para ir, de uma pessoa que possivelmente me arranjaria um emprego. Meus amigos disseram que seria bom para mim, para conhecê-lo pessoalmente. Pedi para que ele fosse comigo, mas como era um ambiente que ele não freqüentaria de maneira alguma, acabei indo sozinha. Antes disso, ainda tivemos uma longa discussão, por que ele não queria que eu freqüentasse este lugar.
Voltei era quase de manhã, e ele ainda fez uma janta pra mim, pois eu estava faminta, e ele havia me dado vinte reais para eu gastar. Na tarde, quando acordei, ele estava completamente frio. E me dissera que não se sentira a vontade com a minha presença na casa dele. No mesmo dia, peguei todos os meus pertences, e retornei para minha casa. Mais uma vez, humilhada. Que situação poderia ser aquela que eu estava vivendo? Moída e ferida, ainda precisava manter a calma para pensar como levaria minha vida dali pra frente.
Com a ajuda dos meus amigos, aos poucos eu ia recuperando as forças, mas eu tinha pouco tempo para resolver o que iria fazer de minha vida. O dinheiro que ele me dera, só dava para me manter naquele mês. Fui vendo quais as alternativas que eu tinha, de onde morar, como me virar, mas eu estava tão perdida, não conseguia mais raciocinar. Desempregada, com uma casa para manter, ele me sustentava. Mas usava isso cada vez que eu pretendia me afastar.
Mais tarde, descobri que sua ex-mulher estava fazendo um tratamento para engravidar, e que eles não haviam rompido daquela última vez. Eu continuei sendo amante sem saber por mais 4 meses. Toda vez que ele terminava comigo, que era sempre uma vez por semana, ele voltara para ela, e essa situação se prolongou ao todo por dez meses, até quando descobri que novamente eles estavam juntos. Desta vez, ele conversou com ela de verdade, colocando suas reais intenções comigo. Disse a ela que era eu quem ele amava e que não iria mais ficar com ela.
Mais uma vez eu acreditei. Ficamos juntos novamente por mais um tempo, período esse diferente dos que eu já vivenciara com ele antes. Ele se mostrou mais preocupado comigo. Me ajudou a conseguir um emprego, alias um bom emprego. Começamos a partir dali um novo relacionamento. Nos víamos todos os dias, passávamos juntos todo o tempo que desse. Mas já não era mais a mesma sensação. A possessividade dele em relação a mim aumentava. O fato de eu não ser mais totalmente dependente dele financeiramente, o fazia ficar desconfiado de mim.
Segundo ele, todos os acontecimentos que havíamos vivenciado antes o fizeram pensar que eu não era confiável, que eu não era respeitável! A cada elogio, eram dez defeitos. A cada boa ação, que era geralmente comprada com dinheiro, eram dez desrespeitosas. Creio que ele acredite que se pode comprar o perdão com o dinheiro. Que se possa comprar o respeito com o dinheiro. Que se possa comprar a confiança com o dinheiro. Que se possa acabar com uma mágoa com o dinheiro. Mas eu afirmo que não se pode. Se esses quesitos estivessem à venda, qualquer um poderia comprar, e deixariam de ser os sentimentos mais nobres que uma pessoa preserva.
Pela falta de fé as pessoas deixam de acreditar. Por medo de se decepcionar as pessoas desistem de sonhar. Por excesso de cuidado as pessoas deixam de arriscar. E por desconfiança, algumas pessoas desistem de amar. Essas pessoas nunca conseguirão saírem vencedoras de nada. Por que o excesso de cautela as faz deixar de viver intensamente a vida.
Eu não me arrependo das coisas que eu fiz. Se nunca tivesse errado, jamais saberia o que é o certo. E é isso o que me fazer acordar a cada dia e agradecer por todos os acontecimentos que me fizeram ser uma pessoa cada vez melhor.